Então eu moro no 802. Há, diagonalmente, o 901. Acima dele, o 1001. O enredo de minha história é o seguinte: o senhor do 1001, muito simpático, diga-se, tem um hábito deveras incômodo. Ele alimenta pombos. Consequentemente, a área entre os apartamentos tem o inconveniente de ter essas pragas constantemente voando, fazendo barulhos e cagando nas janelas alheias.
Certa noite, abro a cortina do meu quarto e tomo um dos maiores sustos que já tomei em toda minha existência. Havia uma coruja de uns 40 cm na janela do 901, me encarando ameaçadoramente. Me encarando, com certeza, ela estava para mim olhando com aqueles olhos amarelos, fixos e psicóticos. Por favor, visualizem a cena e compreendam que não é frescura minha, visualizem: você vem, lépido e fagueiro, abre a cortina e VOILÁ! Uma coruja enorme, com os olhos amarelos e medonhos, fixos em você que não estava esperando nada daquilo.
Pois é. Os vizinhos dos 901 resolveram colocar aquele animal assustador e intimidante para espantar os pombos. Acontece que o único ser assustado e intimidado com aquela aberração sou eu. Sempre esqueço daquela ave demoníaca e me assusto toda vez que olho pela janela.
Agora, me diz. Por um acaso os pombos foram embora? Não, claro que não. Se bobear já até cagaram na cabeça da coruja. O que está indo embora é minha sanidade.