domingo, 17 de maio de 2009

Terror de Pergunta Mongolóide

Olha, vamos deixar uma coisa bem clara aqui: nem sempre quando uma mulher está irritada é culpa da TPM. Por favor, não assumam imediatamente que qualquer variação no humor de uma fêmea da espécie humana é causada por seu ciclo menstrual.
Isso é uma coisa que me tira do sério. Qualquer resposta mais atravessada, qualquer olhar de desaprovação, qualquer leve elevação de voz é motivo para ouvir: “Ih, tá na TPM?”. Por quê? Por que é impossível uma mulher estar mal humorada pelo simples fato de estar mal humorada? Por que minha irritação deve obrigatoriamente ter alguma relação com meu estado hormonal? Caso vocês não saibam, mulheres também são seres humanos e, consequentemente, também estão sujeitas às desventuras e infortúnios de todo dia.
Ela pode ter levado uma multa, ter brigado com o chefe, ter recebido o troco errado na padaria. Acontece. Acontece com os homens também, alguém pergunta a um homem irritado: “Ih, não come ninguém há tempos?”, por um acaso?
A questão é: eu, por exemplo, não tenho variações de humor na TPM, pelo menos não que eu já tenha percebido ou que tenham me avisado. O meu grande problema é a cólica. O descolamento do endométrio, é isso que me mata. Às vezes parece que não são cólicas que eu estou sentindo, são contrações. Parece que eu estou em trabalho de parto. Fico deitada em posição fetal, não consigo me mexer e choro. Choro como um bebê. Isso sim me irrita. É isso que acaba comigo. Acho que se meu humor muda é por isso: raiva da dor que eu sinto. Raiva da dor e das pessoas que assumem que meu mau humor é causado por variações hormonais decorrentes do meu ciclo menstrual.
E antes que vocês perguntem, só para me irritar mais: Não, não estou na TPM.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Das coisas que a gente precisa.

Segunda-feira passada, meu computador foi diagnosticado com falência geral do processador. Ótimo momento para ele travar. Na reta final da monografia. Ótimo. Aliás, chega a ser engraçado. Mas enfim, lá foi ele para o conserto, com a promessa de sair do cti e retornar ao meu quarto na quarta-feira.
Mas isso não aconteceu. Liguei para o responsável pelo conserto do meu filhotinho, que há tão pouco tempo havia ganhado uma cirurgia plástica e tava de cara nova literalmente. Um monitor de lcd, 19 polegadas, lindo. Após a ligação soube que ele voltaria na sexta-feira.
Na quinta-feira pela manhã, me dirigi ao Centro da Cidade, para utilizar o computador da minha digníssima faculdade. E assim fiz. Após digitar coisas, modificar outras, salvei os respectivos arquivos no meu pen drive, para no dia seguinte passar tudo para o computador e assim seguir com a minha vida. Nada poderia dar errado, certo? Errado.
Na sexta-feira, no horário marcado para a chegada do tão esperado computador eu estava em casa com flores, bombons e um enorme sorriso no rosto. Pessoas haviam me ligado para saber se ele já havia chegado. Mensagens de texto foram enviadas e recebidas. E nada. Na-da.
Aquilo foi devastador. Acabou comigo.
Eram onze horas da noite quando saí de casa, peguei meu Celta prata e me dirigi à Botafogo, para afogar minhas mágoas com alguns amigos. Havia combinado de encontrá-los no Humaitá às onze e meia. Na realidade, eu havia saído com bastante antecedência, visto que o Humaitá é a dez minutos da minha residência, e mesmo assim não consegui chegar no horário marcado. Uma blitz. Uma blitz monstra. Uma blitz tão grande que não cabia no enquadramento do meu pára-brisa. Aquilo era um evento. Havia balões infláveis com os dizeres: "Lei Seca - Eu apóio", luzes piscando e muitas, muitas buzinas, que tocavam alternadamente, é claro, fazendo com que eu perguntasse a Deus por que eu não havia nascido surda. Depois de muito esperar, consegui chegar ao meu destino. Encontrei meus amigos, afoguei minhas mágoas, e voltei para buscar meu carro acreditando que a noite havia sido agradável e que as coisas ruins iriam acabar. Claro que não. Haviam arrombado meu carro, é claro. O vidro estava todo estilhaçado e havia um buraco no meio. Sim, um buraco. No meio do meu vidro. Do meu vidro.
Aquilo foi demais para mim. Abri a porta e verifiquei que meu som ainda estava ali. Firme e forte. Um pouco traumatizado, é claro. Como já esperava estava tudo revirado. Meu porta-luvas não portava mais nada, as coisas que estavam na mala, agora se encontravam no banco do carona e meus cd's estavam minuciosamente espalhados pelo chão, posso até afirmar que o Chico Buarque tentou arrancar com o carro, visto que o mesmo estava apoiado no acelerador. Comecei a recolher as coisas, embalada por inúmeros palavrões que é melhor não citar aqui, e fui checar o que estava faltando. É claro que alguma coisa tinha que estar faltando. Foi quando me dei conta de uma coisa que não estava mais entre nós. Uma coisa pequena por fora, mas grande por dentro. Exatamente 1Gb. O meu pen-drive.
O mesmo que portava com tanta segurança o meu projeto final da faculdade. O mesmo que no dia anterior havia me acompanhado a um computador desconhecido na faculdade e salvo meus arquivos modificados. O meu fiel companheiro havia sido levado, e aquilo foi a gota d'água. Por alguns minutos me transformei num monstro no meio de Botafogo. Fui dominada por um ódio que há muito tempo não sentia. Gritei palavrões que jamais havia gritado.
Xinguei o governo e senti vergonha da minha cidade. Iniciei um questionamento em voz alta a esse "Choque de Ordem", que nada ordena. Um questionamento aos impostos que são pagos por mim por possuir um carro, aos inúmeros dois reais pagos a Prefeitura toda vez que estaciono no espaço público da cidade, e no final me vi assistida pelos meus amigos e por um mendigo, que me olhava bastante assustado. Daí parei. Me despedi dos meus amigos, e voltei para casa.
Passei meu final de semana pensando nisso. Na cara assustada daquele mendigo, que me olhava com desaprovação e receio.
Hoje já é segunda-feira e meu computador ainda não chegou. Deve voltar amanhã. E eu vou terminar a minha monografia. Vou reescrever tudo. Entregar na data certa. E vou me formar. Por que, por mais que isso pareça mais um caso dentre milhões de outros o que a gente precisa é de educação.
O rosto daquele mendigo não me engana. Exclusão digital é foda.




Pelo menos eu ainda tenho saúde.
Ainda.

sábado, 9 de maio de 2009

Higiene tóxica

Comprei uma escova de dente nova. Linda, cheia de coisinhas, muito macia, cerdas coloridas, inclusive com aquela faixa de cerdas azuis que indicam a hora de trocar de escova. Pois bem, estreei a gracinha antes de dormir.
Não sei por que cargas d'água, reparei nas cerdas que desbotam depois que terminei minha higiene bucal. Não é que, pro meu espanto, elas já tinham desbotado? Pouco, quase nada, que fique bem claro, mas tinham desbotado. Pensei cá com meus botões: "Jesus Cristo, o nazareno, nascido em Belém, será que eu já tenho que trocar de escova de novo? Mas acabei de comprar e foi uma batalha épica para abrir!". Instantaneamente seguiu-se outro raciocínio: "Calmaê. Como é que essa bagaça desbota? Como pintam isso? Se desbota depois de eu escovar meus lindos dentinhos, é por que essa tinta azul louca que eles usam sai na minha boca! Isso não pode fazer bem. Isso não pode ser saudável.". Encasquetei-me.
Depois de um longo debate interno sobre embalagens que beiram a impossibilidade de serem abertas, cerdas e intoxicação, cheguei à conclusão de que me restam duas opções de vida: Ou eu assumo que sou paranóica e descontrolada, paro de escovar os dentes com escovas modernas e passo a usar cotonetes, gazes e aplicações constantes de flúor para minha higienização dentária, ou morro devido a anos de ingestão indevida de corantes tóxicos e artificiais.
Ainda não me decidi.