sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Ombro Amigo

Ela queria um ombro amigo. Só que não era qualquer ombro amigo, era um ombro específico. Mas não podia pedir, e sabia disso. Aquele era o único ombro que realmente a deixaria melhor, mas ela sabia muito bem que pedir aquele ombro amigo não era uma opção. Ela não podia, muito menos deveria, deixar aquele ombro mais preocupado com ela do que já era naturalmente.
Aquele ombro era provavelmente o que mais se importava e se preocupava com ela, afinal. Não era justo fazer isso. Além do mais, aquele ombro que era na verdade muito mais que amigo, se preocupava com muitas outras coisas, muito mais importantes do que um choramingo e um desabafo dela. Coisas realmente sérias, coisas tangíveis, coisas mais urgentes do que aquelas lágrimas. Lágrimas, é bem verdade, que andavam sendo muito vertidas por aí, embora aquele ombro não soubesse disso. Talvez não tivesse sido informado exatamente por ser um ombro tão importante que não pode se distrair de suas funções e se preocupar com coisas pequenas.
Mas cada vez mais ela sentia que precisava daquele ombro. Do ombro, do abraço, do colo, do “vai dar tudo certo”. Aquele ombro não foi sempre tão amigo, mas depois que passou a ser, virou o preferido dela. Sabia que provavelmente o ombro não soubesse que era tão importante assim, mas o considerava o melhor de todos.
Pensou em como acreditava profundamente nisso, mas nunca tinha dito. Perguntou-se se ele ao menos desconfiava da importância que tinha para ela, e percebeu que nunca demonstrou o quanto amava aquele ombro. Anotou mentalmente: “Mostrar antes que seja tarde”.
Foi então um pensamento ainda mais assolador caiu sobre ela: “Será que a recíproca é verdadeira? O ombro também acredita que não deve me preocupar com seus problemas? Será que meu ombro é importante para aquele ombro? Será que ele também me considera seu ombro preferido?”
Refletindo sobre o assunto percebeu que não era nada daquilo. Ou pelo menos não acreditava ser. Seu ombro era sempre muito requisitado, mas percebeu que nunca havia sido requisitado por aquele ombro específico. E esse pensamento a machucou mais ainda. Queria ser para aquele ombro o que ele era para ela.
Foi então que teve certeza. Certeza de estar mais em dúvida que antes sobre o que fazer. E de que, mais do que nunca, precisava de um ombro amigo.

2 comentários:

Escuerzo disse...

Nunca deixe de demonstrar o que sente. Fundamental isso.

Fernanda Falcão disse...

PERFEITO!!!!